A volta dos que não foram: blog, boleto, mestrado, docência, CEO de MEI, 5 filhos, caos, churrasquinho e um salgado morte-lenta.
- Ivan Sasha Viana Stemler
- 11 de ago.
- 4 min de leitura
A última vez que escrevi no blog, eu tava naquele estado meio frenético de quem acha que vai abraçar o mundo com as pernas e ainda postar no Instagram sobre isso.

Era o combo clássico: um olho no cliente, outro no boleto, aquela sensação de que qualquer e-mail podia mudar a vida… e a convicção lavajatista de que “agora vai” com a empresa. E por “empresa”, entenda-se um MEI raiz: eu, meu MacBook parcelado, a minha galera de sempre me dando força e uns freelas que apareciam e sumiam como um personagem secundário de série ruim da Netflix — daqueles que você só lembra quando volta na temporada seguinte e pensa “ué, esse cara ainda tá vivo?”.
De lá pra cá, a vida fez o que ela faz de melhor: pegou meu planejamento, mostrou o dedo do meio e me jogou noutro(s) lugar(es).
Hoje, eu continuo criando — só que de um jeito muito mais múltiplo (caótico?).
Não é que eu tenha virado outra pessoa, tipo personagem de saga do herói que vai lá, faz um arregaço e volta iluminado. No fim das contas, eu continuo sendo só mais um maluco de Sobradinho 2 — e isso já diz muito sobre o caos que me acompanha. Aqui é aquele rolê esquisito: parece roça, mas tem os cria de Juliette e Jordan no pé. De dia é todo mundo correndo pro Plano e de noite é fila no churrasquinho da esquina ou boteco da DF-420 lotado de gente comendo água e resolvendo os problemas do mundo (ou criando novos).
Talvez seja por isso que aprendi a me virar com o que tenho, a fazer caber um mundo inteiro num dia só. E nesse mundo, tem também uma família de 5 filhos e uma esposa incrível. Uma casa barulhenta e cheia de amor, que me lembra todos os dias por que vale a pena estar nesse corre — mesmo quando parece que não vai dar tempo pra nada.
Pra completar a zona, virei professor universitário — e tudo porque achei uma boa ideia entrar no mestrado em Design na UnB.
(Eu juro que faz sentido dentro do que eu tenho em mente pros próximos anos, confia!)
E aí veio a descoberta mais improvável: dar aula é um jeito muito honesto de aprender. Cada explicação e cada dúvida maluca me obrigam a voltar pro livro, rabiscar caderno, pesquisar mais… e, às vezes, simplesmente largar os controles, quitar da rankeada e admitir que não tenho todas as respostas — e tá tudo bem.
(Pra ser sincero, acho que só tô me virando bem no mestrado porque preciso estudar pra dar aula, e só dou aula direito porque tô no mestrado. Um lance sustenta o outro, e se tirar qualquer peça, o barraco desaba.)
E é aí que vem uma parte curiosa: eu continuo mostrando esse site pros alunos. Não porque ele seja a obra-prima do design digital — ele não é —, mas porque ele é um documento vivo da minha trajetória: tem cliente grande, projeto autoral que ninguém viu, trabalhos que me dão orgulho e outros que… bom… só eu sei o B.O. que foi entregar.
(É por isso que sempre digo: portfólio bom não é vitrine de loja de luxo, é álbum de família. Tem que ter o que é bonito, mas também o que conta história — e, às vezes, o que você prefere esconder numa gaveta, mas que te lembra como chegou até aqui.)
Quando olho pra trás e lembro do cara que escreveu o último post, vejo alguém obcecado em “chegar lá”. Hoje, entendo que o “lá” é mais um mito-produtivo-da-sociedade-ocidental-contemporânea que qualquer outra coisa — uma linha do horizonte que nunca chega, mas que acaba te fazendo continuar no corre. E, entre um passo e outro, uma hora você se pega dando aula pra uma turma cheia de dúvidas, e logo depois, discutindo Flusser e Margolin enquanto encara um salgado morte-lenta, altamente suspeito segundo as normas da ANVISA, na lanchonete da UnB.”
(E no caminho entre isso e aquilo, você tá com o WhatsApp bombando, negociando com um cliente que jura que quer ‘algo simples’, mas chega com 72 referências salvas no Pinterest — e já orçou com outros 19 designers que, por coincidência, são todos seus amigos.).
Talvez algum aluno — do presente, do passado ou do futuro — acabe caindo nesse texto. E eu gosto dessa ideia. De imaginar alguém clicando, por pura curiosidade, e encontrando aqui um pedaço real do meu percurso. Não pra se inspirar com uma história de sucesso meteórica, mas pra ver que a vida criativa é feita de ciclos caóticos, ajustes e de saber aproveitar cada capítulo, mesmo quando o roteiro muda sem avisar.
E quer saber? Eu gosto desse lugar onde estou agora. É foda? (Pergunta pra Samara que me atura todo dia…). Mas, no fim, é justamente esse lance que te lembra que você tá vivo e ainda jogando o jogo.
Se eu vou escrever com frequência? Não prometo nada — até porque, se eu prometer, a vida dá um jeito de me ferrar rapidinho. Mas hoje deu vontade. E se você leu até aqui… parabéns: perdeu uns bons minutos e não ganhou nada. Ou, quem sabe, ganhou o alívio de ver que tá todo mundo só tentando não se perder :)
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