O copo d’água e o teatro corporativo da inovação disruptiva ou "Amigo, você vende garrafa".
- Ivan Sasha Viana Stemler
- 8 de out.
- 2 min de leitura

É sempre um app que promete revolucionar a maneira como você… respira, talvez.
Uma consultoria que “transforma o mundo através do design”.
Uma startup que “resolve dores” — como se o mercado fosse o SUS e a gente, enfermeiro de propósito.
E lá vai o algoritmo, emocionado, empurrando esse teatro corporativo com palavras de ordem tipo “disrupção”, “experiência imersiva”, “inteligência artificial generativa de ponta”.
No fundo, é só um PowerPoint com (muito) ego.
A real é que a tal “inovação disruptiva” virou o horóscopo do capitalismo tardio: todo mundo acredita, ninguém entende, mas dá engajamento.
O problema é quando o design entra nesse culto.
Porque aí o designer deixa de pensar pra performar pensamento.
Sai da prancheta e entra no ringue do “conteúdo estratégico”, sorrindo em 16:9 e repetindo que “o futuro é colaborativo”, enquanto o boleto vence em 3 dias.
E no meio dessa verborragia otimista, o copo d’água continua ali.
Fazendo o que sempre fez: servindo pra beber água.
Sem UX, sem CTA, sem MVP, sem propósito.
Só um copo. Que funciona. E não precisa de mentoria por 10x de R$199,99 pra isso.
O que me fascina é ver o quanto o mercado idolatra o novo, mesmo quando o novo é o velho com filtro VSCO e cara de case.
“Reinventamos o jeito de hidratar pessoas urbanas em movimento.”
Amigo, você vende garrafa.
Disruptivo, pra mim, é quem não finge.
É quem aceita o limite das coisas e ainda assim tenta deixá-las mais humanas — não mais vendáveis.
A verdade é que ninguém quer mudar o mundo.
Querem é viralizar o post sobre isso.
E tá tudo bem — contanto que a gente pare de chamar de revolução o que, no máximo, é um copo d’água com mensagem motivacional de "hidrate-se".



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